OLHOS VERDES
Teus olhos verdes eu fito
Mas logo depois não sei
Se foi do excelso infinito
Divina estrella que olhei.
É que teu olhar encerra
Tanta graça e tanta luz
Que eu penso não ser da terra
O brilho que me seduz!...
Teus olhos, flor adorada,
São de um poder soberano:
E a gente os fita enlevada
Qual se contemplasse o oceano...
Não é que nelles escondas
Essa perola do mar,
Mas toda a attração das ondas
Tu tens guardada no olhar!
Eu nesse olhar adivinho
- Como a chimera vagueia! –
Candura de passarinho
Fascinação de sereia!...
O canto sonho do poeta
Nas noites claras de lua,
Semelha a chamma dilecta
Que nos teus olhos fluctua...
Formosa é sempre a esperança,
Pois vês teus olhos querida,
Têm a cor desta ave mansa
Que tece os sonhos da vida!...
Se pudessem teus olhares
Ver toda a immensa amargura
Do mundo eu via os pesares
Transformados em ventura...
Das almas tristes chorosas,
O pranto num doce riso,
A vida – num mar de rosas,
A terra num paraíso!...
Coração que em magoas perdes
A vontade de viver
Procura estes olhos verdes
Que te renasce o prazer!
Edwiges de Sá Pereira
Publicado na revista O Lyrio, nº 5, de 1 de março de 1903, Recife/PE
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(N.E.) Foi mantida a ortografia da época