LUA
Quando eu nasci a minha mãe morria
com uma santidade de alma em pena.
Seu corpo era translúcido.Ela tinha
sob sua carne um luminar de estrelas.
Morreu. Mas eu nasci.
Por isso levoum invisível rio em minhas veias,
um invencível canto de crepúsculo
que me estimula o riso e mo congela.
Ela ajuntou á vida que nascia
o estéril ramalhar de vida enferma.
A palidez das mãos de moribunda
amarelou em mim a lua cheia.Por isso, irmão, está tão triste o campo
atrás dessas
vidraças transparentes...
... Esta lua amarela em minha vida
faz com que eu seja um abrolhar da morte...Pablo Neruda
Tradução de Rolando Roque da SilvaDo livro: O Rio Invisível - Poesia e prosa de juventude, Difel, 1982, SP