SOB A LUZ DA LUA FRIA

Combinam-se os elementos
na alquimia de um amor sem igual
e que se faz intenso e pleno
sob a luz da lua fria
como a essência de um perfume
liga primordial.
O fogo da luz fria, vai crepitando
derramando-se, como semem
pelas ancas abissais, falésias
precipitação no ar em vôos
ascenssores pelos litorais.
A musica atonal que a todos
enleva, exercícios de sedução.
O filtro do amor que lança
os entes, ao desespero do sexo
em um torpor dolente.
Os frutos deste amor
porque só aromas, ninguém
os come, e se não são do mar
ou da terra, ficam caídos
pelos cantos na areia seca
do deserto, ao alcance
da sede e da fome.
E são aquosos, já mordidos
liquefeitos como os rios
que levam as almas
à promissão, à explosão
de paixão e de cardumes.
Os peixes jogam o claro/escuro.
Sereias margeiam mentes, e são
as fantasias de um romance épico
que é mais que a vida, que é mais
que o mar eterna calma em propulsão.




OS MENDICANTES

Quando o adensar da noite nos convocar,
saídos estaremos de todos os cantos do dia.
Iremos em procissão, romeiros submergidos,
atores de vaudeville, atuando nos pequenos atos
da pequena cena sórdida, ratos, bebedores
contumazes, rábulas das causas perdidas,
tristes poetas da incomunicabilidade,
pardos profetas do fim do mundo,
parvos senhores do relento,
cabonarios derrotados,
prostitutas devotas,
ao abrigo de bares turvos.

Quando o adensar da noite
nos trouxer a lua, e esta, sobre nós
lançar uma luz muito fria,
a bela lagoa, então, mais se adornará
de brilhos, reflexos de pirilampos
e de estrelas, e então, teremos a
riqueza sem fim de uma noite comovente.

A cachaça aquecendo lembranças
e afastando o medo. Por hino, uma
musica qualquer de animar/chacoalhar os ossos
(não uma destas musicas de corno).

Seguiremos, tropeiros, o rastro da fome
e da sede, no chão tornado púrpura
pela luz da lua cheia. A dor ardendo
no olhar fixado num ponto de fuga,
a perspectiva dispersa no ar encorpado
pela penumbra da maresia.

Juntos, clouchards terminais,
marcharemos sem glamour e sem quartel,
até a inviabilidade triunfar sobre o cinismo

                                   Ricardo Sant'Anna Reis

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