Da Lua e Da Maré
redes, anzóis,
barcos encalhados na areia
velas velhas encharcadas de chuva
um barra de areia branca invadindo o marluta da lua e da maré
água salgada corroendo horizontes
lágrimas dos deuses esquecidosuma sonolência encantada
sortilégios de sereias
cardumes invisíveis
cantos de naufrágios nas pedrasrochas escondidas, faróis
galeões fantasmas
a navegar nas espumas do ar
nuvens ondas a arrebentar
outro mar
Aluagem
a lua está a pino
não respeita os horários
impostos pelo sol
cravados em nossa mente
regulados pelo relógionasce no meio da tarde
em pleno sol da primavera
obscurecida pelo dia
que não é o seu reinadoestá a pino ao anoitecer
se põe no meio da noite
para repentinamente na madrugada
ameaçar nascer de novocomo que
querendo competir com o sol
que começa finalmente a nascerEdson Bueno de Camargo
Do livro: "O mapa do abismo", Edições Tigre Azul, Mauá/SP, 2006