Do Jardim: O Luar

            (Sob as notas poéticas de Denise Emmer)

Revela, ó Lua,
a quem aqui primeiro se abrigou,
os amarelados raios
da tua luminária
(velada por nuvens)
sob a noite dos intermináveis silêncios
que despertam as longas neblinas
do mistério dentro de mim

Quando apareces
em um limite escuro do céu
coberta pelo horizonte
intangível de Deus
provocas em meu coração
precioso
a turbulência
dos sonhos despojados

Ó Lua,
magia dos ventos
que pairam sobre mim
as hélices dos meus pés
já não cabem
no solo da amplidão

E miro-te
sem as constelações no infinito
és bela, oh, como és bela!
no esconderijo que te engloba
impudico

Então ressurges
grávida do Amor
das xananas
do outro dia
a dar aos amantes
o fogo a face a fatia
de teu calor
de olhos frios

Ó Lua,
teus enigmas atraem
a minha pele
(cobertura da agrura humana)
por completo arrepio
nas geografias estranhas
da minha casa,
esse luar só visto do meu jardim

[morada da alma litorânea,
que o casal amigo,
Carlos e Clóris,
não desejou dormir
nas redes
da espaçosa varanda
para não se encantar
no poder da minha cabala
de mago]

Ó Lua,
a contemplação tristonha é maior
és límpida, nova ou cheia,
e sempre sombria

Ó Lua,
balanças os meus instintos de macho
sob o brilho intenso de tua carne
obscura de fêmea

E surges, novamente,
és bela, ai, como és bela!
neste azul impenetrável
sob o mar oceânico da Parnaíba

Ó Lua, Ó Lua, Ó Lua...
meu espinhaço dolorido
marcada na tessitura de sal!

                   Diego Mendes Sousa

Do livro "Alma litorânea", 2014,

                                            

Voltar