SONETO 930 HABITUAL [2003]
Chuteiras pendurou certo atacante,
de cuja "despedida" até se orgulha,
devido ao povo que o estádio atulha
e aplaude-lhe o carisma, delirante.
De lá pra cá, porém, tenta, durante
a temporada inteira uma fagulha
de fama faturar, e inda vasculha
se vaga tem nalgum time importante.
Parece que essa gente não sossega,
ainda que no banco tenha grana
e idade pra gastá-la à moda brega!
Carrões, mulheres, drogas, nada sana
a falta duma bola e dum colega
no campo ou noutro jogo, mais sacana...
SONETO 5º FUTEBOLÍSTICO [1999]
Machismo é futebol e amor aos pés.
São machos adorando pés de macho,
e nesse mundo mágico me acho
em meio aos fãs de algum camisa dez.
Invejo os massagistas dos Pelés
nos lúdicos momentos de relaxo,
servindo-lhes de chanca e de capacho,
levando a língua ali, do chão no rés.
É lógico que um cego como eu
não pode convocar o titular
dum time brasileiro ou europeu.
Contento-me em chupar o polegar
do pé de quem ainda não venceu
sequer a mais local preliminar.
Glauco Mattoso