Emerge a tua lembrança da noite em que estou.
O rio junta ao mar o seu lamento obstinado.
Abandonado como o cais de madrugada.
é hora de partir, Oh abandonado!
...
Andei mais para lá do desejo e do ato.
Oh carne, carne minha, mulher que amei e perdi,
a ti nesta hora úmida, evoco e canto.
Como um copo albergaste a infinita ternura,
e o infinito esquecimento te espadelou como a um copo.
Era a negra, negra solidão das ilhas,
e ali, mulher de amor, me acolheram os teus barcos.
Era a sede e a fome, e tu foste a fruta.
Era a dor e as ruínas, e tu foste o milagre.
Ah mulher, não sei como me pudeste conter
na terra da tua alma, e na cruz dos teus braços!
Meu desejo de ti foi o mais terrível e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais tenso e ávido.
Cemitério de beijos, ainda ha fogo nas tuas tumbas,
ainda os cachos ardem bicados de pássaros.
Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos trancados.
Oh a copula louca de esperança e esforço
em que nos unimos e nos desesperamos.
E a ternura, leve como a água e a farinha.
E a palavra mal começada nos lábios.
Esse foi o meu destino e nele viajou a minha vontade,
e nele caiu a minha vontade, tudo em ti foi naufrágio!
...
Eh hora de partir, a dura e fria hora
que a noite prende a todo horário.
O cinturão ruidoso do mar cinge a costa.
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.
Abandonado como o cais na madrugada.
Só a sombra tremula se retorce na minhas mãos.
Ah mais para lah de tudo. Ah mais para lah de tudo.
É hora de partir. Oh abandonado!