Um dia juntamos os brinquedos
com que não mais brincamos
catamos preenchemos cartões
que pomos fora ou guardamos
ou que deixamos de lado
para dar
e no espaço que abrimos
através dos anos
pensamos no que se acumula
de objetos numa escrivaninha
— ridículas fotos
estojos de tabaco
pedrinhas estatuetas —
inúteis
em que o olhar repousa
como nos apoiamos ao corrimão
para recuperar o fôlego
nesse instante do tempo
— após um mês de ausência —
que faz abrir uma gaveta
reler poemas
e uma frase
tão linda numa carta
e que esta guarda
como se guarda um pássaro
na concha da mão.