ADOLESCENTE Nº `11
Não é ciúme o que eu tenho,
é pena;
uma pena
que me rasga o coração.
Essa mulher
nunca pode merecer-te;
não vive da tua vida,
nem cabe na ilusão
da tua sensualidade.
— Mas é bela! tu afirmas;
e eu respondo que te enganas.
A beleza —
sempre foi
um motivo secundário
no corpo que nós amamos;
a beleza não existe
e quando existe não dura.
A beleza —
não é mais do que o desejo
fremente que nos sacode...
— O resto é literatura.
Conheço bem os teus nervos;
deixaram nódoas de lume
na minha carne trigueira;
— Esta carne que lembrava
laivos de luz outonal,
doirada, sem consistência,
a aproximar-se do fim...
Eu já conheço o teu sexo,
tu já gostastd de mim!
A frescura do teu beijo
e o poder do teu abraço
— Tudo isso eu devassei...
Não é ciúme o que eu tenho;
mas quando te vi com ela
— Sem que me vissem, chorei.
Do livro: "Bagos de prata", Editora Olavobrás,
s/data, SP
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