PRELÚDIOS
A tarde de inverno declina
Com ranço de bifes nas galerias.
Seis horas.
O fim carbonizado de nevoentos dias.
E agora um convulso aguaceiro enrola
os encardidos restos
De folhas secas ao redor de nossos pés
E jornais que circulam no vazio
Dos terrenos baldios.
O temporal chicoteia
As persianas rachadas e o capuz das chaminés.
E na esquina de uma rua
Um solitário cavalo de coche
Bafeja e escarva o solo. E então
Aa lâmpadas dardejam seu clarão.
Sua alma tensa se estendeu cruzando os céus
Que se estiolam por trás dos edifícios,
Ou a pisotearam insistentes pés
Às quatro e às cinco e às seis horas da tarde;
E curtos dedos firmes a entupir cachimbos,
E jornais vespertinos, e olhos
Convictos de certas certezas,
A consciência de uma enegrecida rua
Impaciente por se apoderar do mundo.
Movido sou por fantasias que se enredam
Ao redor dessas imagens, e a elas se agarram:
A noção de algo infinitamente suave
De alguma coisa que infinitamente sofre.
Enxuga tuas mãos à boca e ri;
Os mundos se contorcem como velhas mulheres
A juntar lenha nos terrenos baldios.
T. S. Eliot
(tradução de Ivan Junqueira)
Da revista: "Poesia Sempre", nº 9, Fundação
Biblioteca Nacional, 1998, RJ
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