POEMA DA INÚTIL AUSÊNCIA
É tempo de falar, amigo meu.
Tempo de te dizer que a maré-cheia da tristeza
trouxe aos meus olhos parados
o oceando de imagens
que tem a força das ondas que não param.
Nào quero saber de saudades,
quero saber de ti.
Ouvir a tua voz,
sentir o calor das tuas mãos
— Ansiosas e abertas! —
nos gestos dulcíssimos
que os pássaros traçam quando se avizinha o Outono.
Estou só, amigo meu,
só e contigo,
como se no meu corpo se multiplicassem
todos os silêncios a que nos obrigaram
e nas minhas veias latejasse um sangue
que não me pertence.
Estou só, amigo meu,
esperando um milagre de tempo
— Um tempo só nosso! —
onde realies tudo o que sonhaste,
destruindo o silêncio e a distância,
com as palavras que guardas
envolvidas na Esperança do amanhã em que acreditas...
Do livro: "Cântico Submerso", Ed. da autora, `1970,
Portugal
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