ONTEM À NOITE
Ontem à noite, quando o silêncio
do meu amado me disse que não
pensei na morte, me vi enforcada
em cordas de guitarra, ou violão.
por mim gritei, que uma andorinha
sangrava, morta, em meu coração.
Em suas penas morria meu sonho
de voo findo, de asas em vão.
Fui enterrá-lo sob a laje, em sono
onde semeio outra ilusão.
E me dei conta que já era outono,
um previo-inverno, um findo verão.
Assim varrendo as folhas caídas
de minha vida que com tantas mortes
me pesa com o peso de cem vidas
me orvalhei do meu próprio pranto
até o amanhecer, nublado estio.
Voltei a mim, e em mim estava frio
fiz um café e me sentei num canto.
Devagarinho fui bebendo o espanto
de me aquecer com a solidão
o acorde manso, de ritmo constante
em mim batendo, firme, um coração.
Do livro: "Antologia de Poetas Portugueses e Brasileiros"
- vol. I, Blocos, 1996, RJ
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