DE "MELANCOLIA"
O trem arranca lentamente. A vila velha
tem sobre grandes casas sujas e silentes
uma opaca, dolente, suave claridade,
perdida entre as gazes azuis da aurora.
Há ruas sem ninguém, com as portas fechadas,
um relógio que bate, deserto, nostálgico.
Na última parede, junto ao prado verde,
vacila, poeirendo, um tristonho farol.
Chovisca. Algumas gotas morrem no cristal.
Os moinhos de vento, vagamente rosas.
E foge a paisagem... Perde-se a cidade
além do campo imenso, que um sol pobre doura.
Em seu leito, abraçados, sem saudade ou frio,
fundindo em uma só as áscuas de seus lábios,
dois amantes terão ouvido, como em sonho,
este trem lento, grande de cansaço e sombra.
(tradução de Paulo Mendes Campos)
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