Monotonia...
Sempre a imagem das coisas que nos pesa...
As mesmas tintas da Alegria,
O mesmo claro escuro da Tristeza...
Sempre no mesmo corpo a mesma doença: a vida!
Sempre a mesma elegia em sílabas de mágoa...
Sempre o mesmo perfil de serra empedernida,
Onde o inverno, a chorar, desenha espectros de água.
Nuvens de tédio abrindo a boca sobre o mundo...
Uma noite perpétua, emudecida e calma...
Negro pego de lágrimas profundo,
Estagnação da Dor em ermos longes de alma...
A memória em planície estéril e deserta.
Ouvir, de noite e dia, o choro duma fonte...
Sempre a mesma janela eternamente aberta
Sobre o mesmo horizonte...
Nos olhos sempre a mesma indefinida imagem...
Sempre a mesma roseira a florescer por mim...
Sempre o mesmo silêncio em formas de paisagem;
Ave sempre a cantar, dia de sol sem fim!
Um perpétuo sorriso à flor do mesmo rosto...
Num gélido cristal a mesma face absorta...
Sob um eterno sol-posto,
Eterna planície morta...
Em sons de espuma e névoa a eterna voz do Mar,
A morrer, a viver nos ariais de além...
Um eterno sepulcro à luz de eterno luar...
A mesma vida, em nós, vivida por ninguém...
Constante calmaria, eterno mar parado...
Este íntimo Alentejo em que se perde a gente...
Em nosso próprio ser o Tempo desmaiado...
O mesmo, o mesmo, o mesmo, em nós, perpetuamente!