EU, SIMÃO CIRENEU

Com Cristo exausto, ao meu lado, carreguei
A Cruz sangrada, salpicada de suor,
Até à emoção dum destino traçado
Nas profecias que exaltam a dor-mor!

De alegria em suplício caminhei
Lancetado pelas pragas de um povo,
quase rei !

Quase morri também nesse cruel suplício…
Quantas vezes pedi a Deus a terrena protecção!
Também cansei, chorei, suei, sangrei, implorei
Com a crença na omnicompaixão….

Fui assim recobrando a força de viver
- por falta de esperança, nunca morrer
na humilhação!

A caminho do Gólgota Te disse claramente:
Cobiças e orgulhos, leve-os este tormento
Expiado ficarei e jamais lamento
Ter-te ajudado para que finalmente
Tu me fiques dentro!

Vamos ser condenados pelo que fizemos
E também por aquilo que não fizemos…
que é isto o que mais dói!

E Tu me respondeste que vale a pena morrer
Por ideais, pelo futuro que só em sonhos se vê
Na nossa mão…
(Acreditei em Ti, mas continuas pregado
nessa Cruz,
Ainda hoje a guardar a salvação!)

Era uma Cruz suada, uma Cruz enorme,
Carregada pelo mundo num tom disforme!

Houve e há cidadãos rindo fartamente
Desta condição vil…
No fundo riem-se deles, pois são iguais!
- Não se apercebem deste ciclo imbecil,
Julgando o que são por errados sinais!

(Julgam que são sem o serem, que são o que
Nunca serão, nem foram, nem futuro sonham,
E nesta ilusão morrerão de ronha e de peçonha!)

Foi uma Cruz suada, uma Cruz enorme,
Que carreguei pelo mundo em tom disforme
Com mostrada miséria descarnada!

Exibo-a agora que perdi qualquer certeza
Até à cena final, a vida expiada
Por vândalos que definham
a Natureza!

Daniel Cristal
2002-02-24

« Voltar