sala de chá

naquela sala de chá,
morna e macia
de nevoeiro espesso sempre envolta
deixei meu pensamento à solta
pelo sofá
angustiando a tarte até ao fim do dia

as folhas em branco sobre a mesa
esperavam
insistentes
a sombra da tristeza

foi quando entediado
ausente
ponderava de longe um croissant
que vi o teu olhar magoado
reflectido na superfície quente
do meu chá de hortelã

não sei o que aconteceu ou se passou
apenas que o tempo
então
ali
parou
prendi meu pensamento às folhas intocadas
saí com uma saudade que doía
esperava-me um bando de gaivotas assustadas

cá fora era já noite
e chovia

J. M. Restivo Braz

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