O vaso partido

O vaso azul destas verbenas,
Partiu-o um leque que o tocou:
Golpe subtil, roçou-o apenas,
Pois nem um ruído o revelou.
 
Mas a ferida persistente,
Mordendo-o sempre e sem sinal,
Fez, firme e impercetìvelmente,
A volta toda do cristal.
 
A água fugiu calada e fria,
A seiva toda se esgotou;
Ninguem de nada  desconfia.
Não toquem, não, que se quebrou.
 
Assim, a mão de alguém , roçando
Num coração, enche-o de dor;
E ele se vai, calmo, quebrando,
E morre a flor do seu amor;
 
Embora intacto ao olhar do mundo,
Sente, na sua solidão,
Crescer seu mal fino e profundo.
Já se quebrou; não toquem não.

               Prudhomme
(Tradução de Guilherme de Almeida)
Enviado por: Belvedere

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