O Horóscopo
 
Agonizava o sol em síncopes...eu ia
          Triste, triste, evocando
Sobre o cancro que rói minha alma doentia
          O horóscopo nefando.
Ia crescendo em torno a solidão, e espessas
          As sombras se tornavam;
De uma população de espectros as cabeças
          No escuro se agitavam.
Sibilava-me em roda aspérrima rajada
         De enxofre sufocante...
E era uma estrada imensa a pavorosa estrada,
         Que eu seguia, arquejante;
Bordavam-na espectrais rochedos, e, em fileiras,
           As árvores se erguiam...
Noctâmbulas legiões de coisas agoureiras
        Nas trevas se moviam:
E eu, aflito e a pensar nessa fatal doença,
         Que rói-me, ia convulso...
Batiam-me febris na pirexia intensa
           As têmporas e o pulso;
Um gelado suor lavava-me copioso
          A fronte...De repente
Um fantasma surgiu  medonho e pavoroso
         Na estrada, em minha frente,
E disse-me com voz cava, funérea e dura:
           "O mal que hoje te afecta
É a mesma moléstia horrível e sem cura
         De que eu morri, poeta!..."

                                                                                     Rollinat
                                                                (Tradução de Raimundo Corrêa)

Enviado por: Belvedere

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