Serenatas
Mesmo assim arrufada, adoro ainda
O teu semblante, quando se enfurece,
Pois nesse olhar, que um puro esmalte alinda,
Suave a própria cólera parece.
O Amor, que as delicadas leis ensina,
Não raro, inda que sempre doce e liso,
No lábio que nos prende e nos fascina,
Faz suceder os momos ao sorriso.
E, prudente, concede aos namortados,
Para curar as frouxidões morosas,
Que afectam sempre peitos bem amados,
As rixas, esses látegos de rosas.
* * *
Canta jovem pastor no bosque a sós,
E o eco vaidoso diz: "sou eu a voz!"
Sob a vidraça que a cortina vela,
A lâmpada murmura :"eu sou estrela!"
Nos lagos, sobre que pende a ramagem,
"Quem existe sou eu", diz sua imagem.
Porém, mais falsa, ó sina que deploro!
Era a voz protestando-me: "eu te adoro!"Mendés
(Tradução de Augusto de Lima)Enviado por: Belvedere