S' amor non è, che dunque è quel ch' io sento?
Ma s'egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond' è si dolce ogni tormento?
S'a mia voglia arado, ond' è 'I pianto e 'I lamento?
S'a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s'io nol consento?
E s'io 'I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trivo in alto mar, senza governo,
Sí lieve di saber, d'error sí carca,
Ch' i i' medesmo non so quel ch' io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardemdo il verno
Petrarca
Soneto XXII
Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?
Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.
E se eu consito sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.
É tão grave de error (1),
de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
(1) N. T.: Alude à barca
Do livro: "Cancioneiro", Editora Ediouro, RJ
Enviado por: Stela Fonseca