VILLANCETE IX | VILANCETE IX |
En el mes era de abril,
de mayo antes um día, cuando lírios y rosas muestra más su alegría; en la noche más serena que el cielo hacer podía, cuando la hermosa infanta Flérida ya se partía, en la huerta de su padre a los árboles decía: "Quedaos, adiós, mis flores, mi gloria que ser solía. Voyme a tierras extranjeras, pues ventura allá me guía. Si mi padre me buscare, que grande bien me quería, digan que amor me lleva, que no fue la culpa mía; tal tema tomó conmigo, que me venció su porfía. ¡Triste, no sé a do vo, ni nadie me lo decía!" Allí habla don Duardos: "No lloréis, mi alegría, que en los reinos de Inglaterra más claras agua había, y más hermosos jardines, y vuesos, señora mía: ternéis treicientas doncellas de alta genelosía, de plata son los palacios para vuesa señoría; de esmeraldas y jacintos, de oro fino de Turquía, con letreros esmaltados que cuentan la vida mía; cuentan los vivos colores que me distes aquel día cuando don Primaleón fuertemente combatía: señora, vos me matastes, que yo a él no lo temía." Sus lágrimas consolaba Flérida, que esto oía; fuéronse a las galeras, que don Duardos tenía: cincuenta eran por cuenta, todas van en compañía. Al son de sus dulces remos la princesa se adormía en brazos de don Duardos, que bien le pertencecía. Sepan cuantos son nascidos aquesta sentencia mía: que contra la muerte y amor nadie no tiene valía. |
Era ainda o mês de abril,
de maio antes um dia, quando lírios e rosas mostram mais sua alegria; pela noite mais serene que fazer o céu podia, quando Flérida, a formosa infanta, já se partia, ela na horta do pai para as árvores dizia: "Ficai, adeus, minhas flores, em que glória ver soía. Vou-me a terras estrangeiras, a que ventura me guia. Se meu pai me for buscar, que grande bem me queria, digam-lhe que amor me leva e que eu sem culpa o seguia; que tanto por mim porfiava que venceu sua porfia. Triste, não sei aonmde vou, e a mim ninguém o dizia!" Eis que fala Dom Duardos: "Não choreis, minha alegria, que nos reinos da Inglaterra mais claras águas havia, e mais formosos jardins, e vossos, senhora, um dia: tereis trezentas donzelas de alta genealogia, de prata são os palácios para vossa senhoria: de esmeraldas e jacintos, de ouro fino da Turquia com letreiros esmaltados que minha vida à porfia vão contando, e as vivas cores que vós me destes no dia em que com Primaleão fortemente combatia: senhora, vós me matastes que eu a ele não temia". Os seus prantos consolava Flérida, que tudo ouvia; foram-se então às galeras que Dom Duardos havia: por cinqüenta se contavam, todas vão em companhia. Ao som de seus doces remos a princisa se adormia nos braços de Dom Duardos, que bem já lhe pertencia. Saibam quantos são nascidos que sentença eu lhes diria: que contra a morte e o amor não há quem tenha valia. |
Gil Vicente
(Tradução de Anderson Braga Horta)
Do livro: Poetas do Século de Ouro Espanho, Embajada
de España, 2000
Enviado por: Anderson Braga Horta