Estranhos à nevasca e ao brumado,
Em torno do respiradouro aluminado,
Agrupados,
Ajoelhados, cinco petizes - miséria! -
Espreitam o Padeiro que fabrica a féria:
O Pão fulvo e pesado.
Observam o vigor do forte braço branco
Que introduz a massa branca
No forno brilhante.
E pressentem o bom pão que chia.
O Padeiro, sorrindo de alegria,
Bufa resfolegante.
Agora, acocorados, imotos semoventes,
Sentem o hálito do respiradouro, ardente
Como um colo fogoso.
Quando, na vigília da meijoada,
Tira-se a fornada modelada
Em brioche untuoso,
Quando, sob esfumaçados tetos,
Cantam grilos
E crostas perfumosas,
Quando, enfim, o forno quente despeja a vida,
Suas almas estão já tão seduzidas,
Sob vestes andrajosas,
E tanto se comovem vivendo,
Estes pobres Cristos na geada perecendo,
Que lá estão,
Colando suas carinhas afogueadas
À treliça - coisas cochichadas
Por entre vãos -
Todo animais, fazendo preces,
Recurvados tão intensamente para as luzes
Daquele paraíso artificial,
Que rasgam as calças
E suas camisas esvoaçam
Ao vento invernal.
Rimbaud
Enviado por Gastão Leiró