O seu riso gentil que ainda me arrasta,
Como quem vai seguindo no deserto
Os raios dum clarão que julga perto,
Mas que a segui-lo toda a vida gasta;
Sua voz, seu olhar, sua alma casta
Todo esse altivo e festival concerto
— Brancas formas de luz que ao seio aperto
Sonhadamente, numa dor nefasta...
Esse porte de brilho e majestade
E o seu modo sincero, doce e honesto,
Tudo a sombra da Mágoa, sem piedade,
Velou, tocando-a com seu ar funesto!
Nunca eu sonhasse, ó íntima saudade,
Seu riso, voz, olhar e alma e gesto!...
António Fogaça
Do livro: "Líricas Portuguesas", seleção prefáio e notas de Cabral do Nascimento, Portugália Editora, 1957, Portugal