Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa a mãe ordena,
Que o furtado colchão, fofo, e de pena,
A filha o ponha ali, ou a criada.
A filha moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
— "Sumiu-se-lhe um colchão, é forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada."
— "Tu respondes-me assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
já a mãe não tem mãos?" e, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.
Nicolau Tolentino
Enviado por: Belvedere