RIMAS
VII
Em um escuro canto do salão,
Esquecida talvez do próprio dono,
Toda cheia de pó e silenciosa
Achava-se uma harpa.
Quanta nota dormia em suas cordas,
Como um pássaro dorme entre a folhagem,
A suave mão branquíssima esperando
Que sabe
desferi-las.
Ai! — eu pensei — Ai! quanta vez o génio
Assim dorme no fundo de uma alma,
E como Lázaro uma voz espera
Que lhe queira dizer: "Levanta-te e anda!"
LI
Da pouca vida que me resta ainda
Com prazer dera os anos mais felizes
Pra saber
o que aos outros
Tu disseste
de mim.
E esta vida mortal, e a vida eterna,
Se alguma me tocar, bem que eu daria
Pra saber o que a sós
Tu pensaste de mim.
XI
Escuta, eu sou ardente e sou morena,
Sou tal e qual o emblema da paixão;
De ânsias de gozos a minh'alma é plena.
Não me procuras? — Não te quero; não.
Tenho pálido o rosto e as tranças de ouro;
Posso te oferecer ditas sem fim;
Possuo de ternuras um tesouro.
Não me chamas? — Chamei, mas não a ti.
Eu sou sonho, eu sou um impossível,
Fantasma vão, feito de névoa e luz;
Tanto incorpórea sou como intangível;
Não poderei amar-te. — Oh! vem; vem tu!
Gustavo Adolfo Bécquer
(Tradução de Ary Mesquita)
Enviado por Belvedere
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