O Cão e o Pato
     Cão late,
     late, late
     e não só:

     late e anda,
     anda, anda
     e não só:

     cão corre,
     corre, corre
     e não só:

     cão pula,
     pula, pula
     e ula lá!

     E não é tudo:
     cão nada,

     nada de tudo
     pra pegar o pato

     que não pára, não:
     e nada também
     pra fugir do cão.

     Cão nada, nada
     com a cabeça saltada
     num nado de cachorrinho
     que é devagar e feinho.

     Pato nada elegante
     e como tem pé de pato
     e nadadeira de pato
     nada bastante, bastante.

     Porém o cão não desiste,
     tem força de cão e insiste,
     insiste, insiste, insiste.

     De repente chega perto
     do pato que, coitado,
     mesmo com pé de pato
     e nadadeira de pato
     e a favor da corrente,
     fica numa pior.

     Ai meu Deus, que horror,
     cão perto do pescoço,
     boca aberta, um colosso,
     dente afiado na boa.

     Mas pato com cão no cangote
     não faz nenhum fricote:
     na hora agá, ele voa.

     Cão volta então sem pato
     mas não fica no abandono.
 
 
 

     A voz lhe dá uma patada:
     "Você fugiu, desgraçado".

     E já em casa, coitado,
     toma paulada do dono.

                              Celso Gutfreind

« Voltar