ABRIL
na noite dos fatos
aguardo abril
na janela do quartoabril entrará
num pulo de gato
numa pedra na vidraçacom sua luz de sangue
iluminará objetos: o mastro
da cama a bandeira— camisa desfraldada —
seguirá o rastro
da pólvora a mesameu rosto e o brilho
de meus olhos pardos
e com seu fogoincendiará o lençol
queimaqrá o lastro
e tudo irá aos aresporque abril me encontrará
sedento ou farto
já morto ou quase
Luiz RufatoDo livro: Cotidiano do medo, Ed. autor, Alfenas/MG, 1984