AO MUNDO

De todas as venturas seductoras
com que esmaltas a vida dos felizes,
uma só não me deste, ó cruel mundo!
Minha existência não contém matizes!

Negaste-me a esperança onde se embala
da Mocidade o sonho mais gentil!
a flor do riso que desabrocha leda
às perfumosas vibrações de abril.

Cardos, syrtes e bravas erycacias
somente semeiaste em minha estrada!...
— a noute infinda de um soffrer sem treguas,
sem poder esperar — uma alvorada!

Quebras o encanto que minh'alma adora
quando um riso de amor casto floresce!
Crestas-me até as flores que aromam...
E não sei mesmo porque o sol me aquece!

E nos sonhos de amor... até nos sonhos!
sinto o pungir das tuas ironias!...
Negas-me tudo que a ventura crea,
e me fazes soffrer nas alegrias!...

E quando um dia, exanime, vencida,
findar-se d'esta vida a noute escura,
quero saber se tu, oh mundo ingrato,
me negarás também a SEPULTURA!

                              Rosália Sandoval

Da Revista O Lyrio, nª 8 (junho 1903), Recife/PE

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