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CRESCENTE DE AGOSTO

Alteia-se no azul aos poucos o crescente,
O ar embalsama, os cirros leva, o escudo afasta;
Vasto, de extremo a extremo, enche a alameda vasta
E emborca a urna de luz nas águas da corrente.

Na escumilha da teia, onde a aranha indolente
Dorme, feita de orvalho, uma pérola engasta
Faz aos lírios mais branca a flor cetínea e casta,
Mais brancos os jasmins e a murta redolente.

Faz chorar um violão lá não sei onde... (A ouvi-lo
Na calada da noite um não-sei-quê me invade)
Faz que haja em tudo um como estranho espasmo e enlevo;

Faz as cousas rezar, ao seu clarão tranqüilo,
Faz nascer dentro em mim uma grande saudade,
Faz nascer da saudade estes versos que escrevo.

Do livro: "Nova Antologia Brasileira", de Clóvis Monteiro, F. Briguiet & Cia. Editores, 16ª ed., 1961, RJ

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