POEMA DE AGOSTOEnvelheci para as comemorações
e para os cumprimentos efusivos.
Adormeço na festa e espanto as palmas.
Tudo igual da janela.
Só no quintal da infância permanecem segredos.
Hesitei diante das ofertas.
Quando me for já não terei pena.
As coisas foram colocadas à altura das minhas mãos
mas desnecessariamente fiquei na ponta dos pés,
as mãos alcançando o vazio,
entre as coisas e coisa nenhuma.
E por estar sempre de joelhos,
farejando pegadas que me indicassem o caminho,
não vi a seta à altura dos olhos
o caminho indicando.
Faltou desassombro
e envelheci sem mérito.
Como alguém que envia uma carta absurda e se arrepende
e nada pode fazer a não ser esperar,
assim também me enderecei sem força a tantas coisas
e não podendo interceptar-me
aguardo notícias do desastre.
Manoel CarlosDo livro: "Bicho Alado", Nova Fronteira, RJ, 1982