AGOSTO

Na atmosfera pesada e cinzenta de Agosto,
justo há pouco, flutuava o fumo das queimadas.
Brincava a escória no ar, tombando nas estradas
e ao sequioso viajor enodoando o rosto.

Agosto já findou. Mas inda nas chapadas
paira a desolação do solo decomposto.
E no aspecto embaciado e triste das quebradas
conserva o dia a luz opaca do sol-posto.

Dentro de mim é sempre Agosto. Meu destino,
lavrador impiedoso, estrangulou-me o sonho.
Hoje, dessa ilusão, só me resta uma fumaça...

E em vão pergunto ao céu se em mim, claro e divino,
outro amor vai florir, ou se arderei tristonho
no infecundo bulcão que eternamente passa.

               Anderson Braga Horta

Do livro: Soneto antigo (1950 - 2000), Thesaurus, 2009, Brasília/DF

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