Os doze mezes

Janeiro
Surgiu o anno bom!... Quanta festança
Alegra o povo que a chorar viveu!
Em Janeiro te vi... Nem mais lembrança
Nem saudade do anno que morreu.

Fevereiro
Ai! este mez tem muitos dissabores,
Mas também póde ser encantador:
Tem 28 dias para as dôres,
Tem 29 para nosso amor.

Março
No mez de Março, neste mez de chuva
Vendo passar o séquito das águas,
Minh'alma não sentiu-se mais viúva,
No inverno afogou as suas maguas.

Abril
E em Abril, a natureza em festa
Saudou-nos da alegria na effusão,
O sol vinha nos vêr por uma fresta
Das nuvens que sorriam n'amplidão.

Maio
Como um jardim florido e perfumado
Era, por certo, o nosso flóreo amor.
O mez das flôres não é mais amado
Nem tem mais flôres na campina em flôr.

Junho
No mez de João Baptista, fogos, dansas
Só tinham para nós vago atractivo,
De um outro Jordão nas vagas mansas
Baptisei meu amor, d'antes captivo.

Julho
Um beijo! Esta palavra tudo encerra
De celeste, de grande, o sinto, o creio.
Em Julho, em Julho, então, ruiu por terra
A Bastilha, meu bem, de teu receio.

Agosto
Agosto, não, não é mez de desgosto...
Prazeres mil, como não conta a historia,
Gosei nos 31 dias de Agosto,
Um novo Augusto, me elevando à gloria.

Setembro
E neste mez de preces todo pleno
Às Dores de Maria Immaculada,
A ti, Virgem do amor casto e sereno,
Elevei minha prece angustiada.

Outubro
Risos e flores, alegria em tudo.
A primavera em tudo apparecia,
Nenhum canto da terra estava mudo,
Nenhum canto do céo se ennegrecia.

Novembro
Flôres em cada pobre sepultura,
Prantos em cada frio monumento...
Ah! neste mez sellei minha ventura,
Neste mez foi o nosso casamento.

Dezembro
Todo Dezembro foi um céo aberto,
- Mez de pasteis, de gosos, de alegria -
Novo Anno Bom vem perto, muito perto,
- Mez consagrado ao Filho de Maria. -

                                                     Júlio Pires

Do Almanach de Pernambuco (ano 5), 1903, Recife/PE
Enviado por Leninha
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N E.: Foi respeitada a ortografia da época

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