Numa Tarde Qualquer de Janeiro ou de Junho
A menina tomada de olhos tristes
viu fugirem-lhe a bola e a bicicleta
e viu desmantelar-se a sua infância
caindo-lhe das mãos a rosa rubra.O seu vestido foi ficando feio
sem que notasse nódoas no tecido.
Doeu-lhe contemplar o inútil tênis
e a manhã rejeitou os seus cabelos.Foi colocada fora do recreio
que todas as amigas saboreavam
numa tarde qualquer de janeiro ou de junho.A menina ficou toda noturna,
e as rosas que esquecera dentro da alma
nunca mais exalaram seus perfumes.Olney Borges Pinto de Souza
Do livro: "Ânfora Solar", Scortecci, 1996, SP