Ah esse frio junino...
O frio relembra as origens
Lá, quando nos açoitava
Quando dormíamos ao relento
Ou nos abrigávamos, famintos
E o fogo nos juntava as lendasO lento amanhecer, lá fora
O medo, o rio congelado
Árvores secas como dedos
E nossa finitude ensimesmada
Ah, o frio que me tolhe os sonhos
Esse que me colhe as mágoasO gelo nas águas paradas
O triste olhar vazio do Nada
O ranger das nuvens e das bocas
E o fogo vadio nas raízes
e nas toras— Vá embora, menino!
Daí sobrava uma boca.Flavio Gimenez