PROMETEU

Filhas verdes do mar, e ó nuvens, num incenso,
Beija-me! e bendizei o meu sangue e o meu pranto!
Quando sucumbo e sou vencido, exulto e venço:
A minha queda é glória e o meu rugido é canto!

Sob os grilhões, espero; escrvizado, penso;
E, morto, viverei! Domando a carne e o espanto,
Invadindo de estrela a estrela o Olimpo imenso,
Roubei-lhe na escalada o fogo sacrossanto!

Forjando o ferro, arando o chão, prendendo o raio,
Dei aos homens o ideal que anima, e o pão que nutre...
Debalde o ódio, e o castigo, e as garras me consomem:

Quando sofro, maior, mais alto, quando caio,
Sou, entre a terra e o céu, entre o Cáucaso e o abutre,
— Sobre o martírio, o orgulho, e, sobre os deuses, o Homem!
 


A IARA

Vive dentro de mim, como num rio,
Uma linda mulher, esquiva e rara,
Num borbulhar de argênteos flocos, Iara
De cabeleira de ouro e corpo frio.

Entre as ninféias a namoro e espio:
E ela, do espelho móbil de onda clara,
Com os verdes olhos úmidos me encra,
E oferece-me o seio alvo e macio.

Precipito-me, no ímpeto de esposo,
Na desesperação da glória suma
Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...

Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
E a mãe-d'água, exalando um ai piedoso,
Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.

                                      Olavo Bilac

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