Ikhnaton

Eu sou o filho do fogo
do sol.
Vivo no sonho
da eternidade, de onde brilho.
No olho em chamas de meu pai.
O céu em fogo, o céu em fogo.
A luz divina doa a vida.
Purifica a luz divina toda chaga.
O olho celeste gira, gira.
Vê do alto, vê longe.
Não conhece fronteiras no universo.
A terra é fértil, as plantas frutificam.
(Já sofreu a sombra a doce tâmara.
Pairava o manto negro da morte,
coleante serpente esfomeada,
sobre as casas dos homens
vestidos de cinza dolorosa.
Os homens cegos nos sarcófagos,
em suas fundas covas leprosas.)
O céu em fogo, o céu em fogo.
As pétalas de luz da alvorada.
Tanta luz, meu pai, tanta luz.
A única luz da divindade.
Quando minha barca te procurou,
como numa festa fatídica,
que alegria, meu pai.
Saber-me eterno, uno
contigo, com teu olho flamejante.
Conheci que eu já era
e sou
antes de vir a ser.
Eu tenho a alma do sol,
eu sou Ikhnaton.

                                                              José Carlos Mendes Brandão
 
Do livro inédito: "O Nó dos Tempos"

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