PENÉLOPE

                a Lázaro Barreto

que empenho quera posto à madrugada
para passar de pouco a coisa alguma,
para soltar as malhas uma a uma
da tela que era à luz do sol trançada.

olhava ao longe o mar: não via nada.
no porto, tempo havia que nenhuma
embarcação chegava e só espuma
vinha bater nas pedras da amurada.

parado andava o ar. passavam lentos
os dias, e entre os dedos da rainha
se embaraçavam com seus pensamentos.

que quanto mais tardava seu marido
mais sem vontade ela corria a linha
com que trançava as horas no tecido.

                 Mario de Oliveira

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