IA EU, NINFA, SEGUINDO...

Houve um tempo
Nos meus tempos
Em que eu,
Depois ninfa do Tejo
Era bancante e pairava
Além dos Montes Hermínios

Uma a tarde caminhava
Mal envolta em minha toga,
Presume-se que vermelha,
Por cima da erva tenra.

Aqui e ali colhia
Campainhas coloridas
Das que ainda ali nascem
Azuis, pendentes e brancas
E a meio do mês terceiro
Surgem outras, amarelas.

Pois ia eu sossegada
Na beleza de meus dias
O sol manhoso filtrava
Dentre os carvalhais centelhas
Doiradas, finas, esplendentes
Que se ondulavam nos fios
Dispersos de meus cabelos

De tudo tão distraída
Seguia, então como agora,
Saltitante vereda fora,
Por vezes fora da vereda,
De súbito oiço um clic
E um rasgo arrastar ligeiro!
Levo as mãos ambas ao seio
As flores dos dedos soltando,

Que ante meus olhos vislumbro
Um gentil rosto barbudo
Brilhantes olhos afoitos
E a beleza de seu torso
Mais luzente do que oiro...

No céu, disseram depois,
Que Zeus se rira bem alto
Daquele meu sobressalto
Defrontando o belo fauno.
Afrodite, divertida,
Serviu-lhe uma taça de ambrosia
E Minerva, de zangada,
Bole que bole com a agulha,
Tecia uma peúga
Não fosse o Eros menino
Apanhar um resfriado!

                                               Maria Petronilho

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