TÂNTALO

Não seria maior, nem mais forte o castigo,
fosse o crime de morte ou pecado de amor!
Mas o néctar do céu, que trouxeste contigo,
trouxe o fogo do inferno a teu mundo interior.

Foi cruel o suplício, e cruel o inimigo
ao negar-te, da água, a doçura, e o frescor;
ao negar-te um só pomo, ao negar-te um abrigo
e te expondo ao olhar um país de esplendor.

Por teu crime sofrete e foi grande a tortura
(Era o néctar tão doce, a ambrosia tão pura!
Se não fossem de Zeus, tentariam a Zeus!)

Não amaste, porém, e não foste obrigado
a parir triste e só, e deixar o ente amado
sem um beijo de amor, sem um gesto de adeus...
 

   

AS AMAZONAS

I

Da Cítia ao Termodon, na Temiscira,
a cavalgada heróica, em bandos, desce
vencendo os homens com tamanha ira
que o último varão desaparece...

São Amazonas cuja tribo, em messe,
combate contra Baco e se retira
para atacr outro inimigo. E tece
 trama sutil que a todos admira:

Uma vez cada ano, armando os laços,
os homens de outras tribos, com talento,
na conquista do amor prendem nos braços.

São, porém, egoístas como a abelha
que apenas quer, num rápido momento,
colher, da Vida, a atômica centelha...
 

II

Só criavam mulheres. De crianças
— para o manejo de armas ser perfeito —
iam cortando os caracóis das tranças
e secando, sem dor, o destro peito.

Do ponto Euxino à Ática, nas franças
das florestas da América — o direito
de governar firmava-se nas lanças
dessas mulheres de ideal conceito...

Escudo ao lado, o seio nu, a aljava
traziam no ombro, com valor sustida,
prendendo a acha, o arco, a seta e a clava...

No amor, vencê-las, era tanta a sorte,
que valera perder direito à vida
no humano gozo da infinita morte!

                                                            Maria Braga Horta

Do livro: "Caminho de Estrelas", Massao Ohno Editor, 1996, SP

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