A RUÍNA DE PROMETEU

Sob os pés fulgurosos de Zeus (1)
Deflagra-se a figura decrépita de Prometeu (2)
Vencido diante da desfoque modernidade
Refletindo uma imagem pós-humana.

Encharcados diante das crianças que avoam
Por entre portas e janelas aquebrantadas
Arrastadas por entre as ruas
Acorrentadas entre as cavernas
Amordaçadas, esquecidas na Lagoa da Pampulha.

A chama olímpica se retrai
Faz sangrar a face de um Tibet em ruínas
Que sob o olhar ferido de Prometeu
Apagam-se as luzes de Letícias (4), Isabellas (5)
E João Hélios (6).

O sorriso de Zeus flama o fogo
Diante da avó que é espancada
Ou do casal incestuoso
Que proclama a nova república
O elefante Branco ensangüentado.

Prometeu chora calado
A liberdade que um dia concedeu
A humanidade que sonhava ser Deus
Desligando as cores do arco-íris.

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(1) Divindade suprema do Olímpo, chamado "pai dos deuses e dos homens", Zeus simbolizava a ordem racional da Civilização Helênica. (2) Na antiguidade, o fogo era considerado sagrado por muitos povos, incluindo os gregos que tinham uma lenda segundo a qual o fogo teria sido entregue aos mortais por Prometeu que o roubara de Zeus.
(3) Bebê arremessado pela mãe na Lagoa da Pampulha em Minas Gerais.
(4) Isabella Nardoni, supostamente arremessada do sexto andar em um edifício de São Paulo.
(6) Menino arrastado em um carro pelas ruas de Madureira No Rio de Janeiro.

                                                         Darlan Alberto Tupinampá Araújo Padilha

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