Eu não lastimo o próximo perigo
uma escura prisão, estreita e forte,
lastimo os caros filhos, a consorte,
a perda irreparável de uma amigo.
A prisão não lastimo, outra vez digo,
nem o ver iminente o duro corte,
que é ventura também achar a morte
quando a vida só serve de castigo.
Ah, quão depressa então acabar vira
este enredo, este sonho, esta quimera,
que passa por verdade e é mentira!
Se filhos, se consorte não tivera
e do amigo as virtudes possuíra,
um momento de vida eu não quisera.
Alvarenga Peixoto
Do livro: "Livro dos Sonetos", LP&M Editores, 1996,
RS
Enviado por: Márcia Maia