Vem despontando a aurora, a noite morre,
desperta a mata virgem seus cantores,
medroso o vento no arraial das flores
mil beijos furta e suspirando corre.
Estende a névoa o manto e o val percorre,
cruzam-se as borboletas de mil cores,
e as mansas rolas choram seus amores
nas verdes balsas onde o orvalho escorre.
E pouco a pouco se esvanece a bruma,
tudo se alegra à luz do céu risonho
e ao flóreo bafo que o sertão perfuma.
Porém minh'alma triste e sem um sonho
murmura olhando o prado, o rio, a espuma:
como isto é pobre, insípido, enfadonho!
Fagundes Varela
Do livro: "Livro dos Sonetos", LP&M Editores, 1996, RS