A Rosina Stoltz em uma representação da "Favorita".
Gênio! Gênio!... inda mais! Supremo esforço
da mão de Deus no ardor do entusiasmo!
És anjo ou és mulher, tu que nos roubas
do culto o amor, o êxtase do pasmo?
Na pujança do vôo a águia soberba
tenta o céu devassar, exausta pára:
nas asas do lirismo, tu de Jeová
ao templo chegas, e te prostras n’ara.
Aí, c’roada de fulgente auréola,
no concerto dos anjos te misturas;
e se cantas na terra, são teus hinos
harmonias que ouviste nas alturas;
aí aspiras o lustral perfume,
que das urnas sagradas se evapora:
eis porque tua voz parece ungida
dos olores da flor, que orvalha a aurora.
Aí do coração na harpa animada,
as cordas descobriste de ouro estreme,
que se vibram de amor, ateiam n’alma
paixão que goza e sofre e canta e geme.
Aí o idioma típico aprendeste,
que entendem todos e que tudo exprime:
é assim teu olhar o verbo vivo,
é teu gesto a linguagem mais sublime.
Mistério augusto que do Eterno ao fiat
surgiste, qual visão que atrai, fascina;
se da mulher teu corpo veste a forma,
arde no gênio tua chama divina.
Mulher ou anjo! Cumpre a missão tua!
Seja a crença deleite, a fé doçura;
toda a terra ame ao céu nos seus prodígios,
adore o Criador na criatura.