Que vês nos meus olhos,
que tanto te espantam?
Que mostram de estranho,
que assim te quebrantam?
Um monstro as pupilas
no fundo terão?
Espelhos no inferno
as alvas serão?
Serão os meus olhos
um quadro de horror?
Demônios, ou fúrias
de imenso terror?
Serão — quais fantasmas
de arábicos sonhos?
Que têm os meus olhos,
que são tão medonhos?
Mentira! — Meus olhos
medonhos não são!
Meus olhos — somente —
têm nova expressão.
Exprimem a luz
que os céus alumia:
— a luz dos mistérios
da sã poesia.
Que são os meus olhos,
que ainda te espantam?
— São deuses que inspiram!
São anjos que cantam!
Junqueira Freire
Do livro: "Livro do Corpo", LP&M, 1999, RS
Enviado por: Márcia Maia