Quando, c'os olhos míopes, eu sigo
Esta vida que sempre nos ilude,
Como a dama, ao passar um ataúde,
Tenho ataques de nervos, meu amigo.
Logo ao nascer, arrancam-nos o umbigo;
Depois, a vara inspira-nos virtude,
E, ao amor dedicando a juventude,
Pomos as nossas costas em perigo.
Casamos... que tolice! O ano inteiro
Em inútil suor banha-se a testa,
Que a mulher nos dá cabo do dinheiro.
A velhice mil mágoas nos empresta;
Só do tabaco nos agrada o cheiro;
Chega a morte de foice e... acaba a festa.
Paulo Eiró
Do livro: "A vida de Paulo Eiró", de Affonso Schmidt, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias. Org. pref. e anotada José A. ,Gonsalves. Il. Wasth Rodrigues. Poema integrante da série Tetéias, 1855. Ed. Nacional, 1940, SP