Esfinge
Tuas pupilas alaga
Não sei que acerba ternura,
Cuja luz cruel me afaga,
Cujo afago me tortura.
Unge-te o seio moreno
Um perfume sufocante,
Suave como um calmante,
Pérfido como um veneno.
Freme-te a alma fatal
No frágil corpo nervoso,
Como um filtro perigoso
Numa prisão de cristal.
Para estancar os desejos,
Que teu sangue tantalizam,
Teus lábios prodigalizam
Dentadas por entre beijos.
Com sarcasmo me apunhalas;
Depois, as feridas cruas
Ameigas com a luz que exalas
Dos teus olhos, - negras luas.
Tua palavra me é dura
Às vezes, pelo sentido,
E doce pela brandura
Com que me trina no ouvido.
Há uma alma que suspira
Em cada ponto do espaço
Quando caminhas: teu passo
Murmura como uma lira.
No movimento discreto
Revelas, por entre gazes,
Todo um poema correto
Escrito em versos sem frases.
Os teus lençois apaixonas
Com a gentileza que apuras
Nas langorosas posturas
Em que o teu corpo abandonas.
Dos primores, de que és feita,
A nenhum dou primazia:
É do conjunto a harmonia
Que os meus sentidos sujeita.
E eu te amo, beleza fátua,
Minha perpétua loucura,
Como o verme a flor mais pura,
E o musgo a mais bela estátua!
Teófilo Dias
Do livro "Antologia da Poesia Paulista", Conselho Estadual de Cultura, Comissão de Literatura, 1960, SP.
Enviado por: Leninha