A Flor e a Fonte

"Deixa-me, fonte" - dizia
A flor, tonta de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar;
"Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar".

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!"

Chorava a flor e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

"Adeus, sombras das ramadas,
Cantigas do rouxinol!
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do por do sol;

Carícias das brisas leves,
Que abrem rasgões-de-luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar..."

                                       Vicente de Carvalho

Do livro: "A Poesia na Escola", Secretaria de Educação - Estado de Minas Gerais, Imprensa Oficial, 1956, MG
Enviado por Leninha

« Voltar