FLOR
Minha mãe ama as coisas da terra,
cultiva flores com especial desvelo.
Seu jardim era todo ladeado por íris
como aquelas,
das telas de Van Gogh.
Havia grandes flores amarelas
cujo nome não sei,
não eram girassóis.
Não sou boa de nomes. Coleciono lembranças,
perfumes e sombras.
Das mangueiras, generosas,
o chão coberto de ovais verde-amarelos.
A jabuticabeira demorou tanto a dar
que esperei a infância inteira.
Nas espatodéias eu subia alto,
eram meu reino, os cabelos soltos.
Uma vez um tio tirou minha fotografia
com sua máquina americana.
Nas cores mais lindas se via o jardim de minha mãe.
A lagoa era ainda mais azul;
os cabelos, ainda mais ruivos.
Aquele tempo só figurava em branco e preto,
mas a revelação estrangeira
capturou as cores vivas
e as sombras mortas
do meu semblante.
Lá estava a menina,
aos seis anos de idade.
Com uma blusa de marinheiro,
não fantasiava singrar mares;
nos seus sonhos,
andava no lago sob as águas.
No meio do jardim,
precocemente séria,
bela flor pesada.
Débora S. Bueno