ATÉ ONDE ME LEVEM AS FLORES

Sigo os passos daquela floreira do quintal de minha casa,
Onde pétalas se abriam ao amanhecer, espargindo aromas mil,
Lá, eu via flores azuis, amarelas - crisântemos dourados,
Voando ao léu em pétalas partidas, esvoaçadas.

Até onde me levem as flores, quero alcançar o vôo da águia cinza,
Num horizonte cheio de gaivotas perdidas,
Criando azuis num infinito de solidão,
Aportando numa praia qualquer,
Desesperadamente doentes.

Preciso curar as aves, remendar as pétalas das flores
Que se esgarçam ao vento e se debatem,
Como asas de pássaros infelizes,
Sem árvores, rios, sem espaço!

Até onde me levem as flores quero conhecer montanhas
Escalar nuvens e grandes cumes,
Conhecer e amar as planícies esquecidas
E não enxergar mais nada, só o azul celeste
Banhando-me em nuvens cristalinas e perfumadas.

Quero o vento do norte apontando caminhos,
Quero o cheiro da madrugada despindo meus desejos,
Quero a linguagem silenciosa das mariposas - acasalando,
Proliferando a espécie.

Até onde me levem as flores quero um punhado de luz,
Incandescente, avermelhada, espalhando fagulhas
Sobre minhas feridas e curando os meus ais!


A ALMA DAS FLORES

Sobrevoa a pétala da flor rosada
Desprendida e tão grávida de orvalho
Banhando-se no morno sol do amanhecer.

Em sua pele, transparente e inconsútil
Vê-se o bordado da pureza e da alegria
Enternecendo o coração da gente.

Película branca, rosa ou levemente lilás
Cobrindo sua nudez despetalada
Que o vento arrasta, para onde quer.

A alma das flores chora
Um pranto delicioso, nota magoada,
Que sobrou, de um cortejo florido.

As flores dançam, desmaiam, suam…
E a alma delas exala sutil halo,
Incandescente, cristalizando-se na pele.

Oh! Deus, quisera perpetuar as flores,
Demorar sua beleza e aromas,
Mas sua alma as leva tão brevemente…

A alma das flores traz um toque de brilho,
Luz que se derrama dos hibiscos
E se materializa na forma e cor, tão delicadas!

Oh! Alma das flores, demorai seu egoísmo,
Deixai que essas pétalas macias perdurem
E encham nossos olhos de inocência.

Não permitais, alma indolente, radical,
Que as flores se machuquem, elas sentem dor,
Choram e agonizam ao soprar dos ventos.

Quero a alma das flores sobrevoando
Em jardins negros, com lagos borbulhantes
As flores são doces, lindas e gentis.

A alma das flores enfeita nossas festas,
São meninas rosadas e amarelas, gritando suas dores,
Esticando suas pétalas, gritando gemidos… Help!

Lúcia Helena Pereira

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