Flor de Junho

Tua lembrança nasce em mim, digamos,
como uma flor de junho: úmida, fria,
curvada ao vento e à melancolia
do que vivemos. Mais: do que deixamos

de viver (penso nisto, assim, digamos,
mordido de remorsos). Quem diria
que viria tão rápido este dia
em que eu veria que passei, passamos?

Flor de junho... Essa história, outras histórias,
por quanto ainda, assim, dessas memórias
suportarei? E o corvo Nunca Mais

me pousa no ombro. E, vendo a comoção
lavrando-me, me afaga e me diz: "Não
há de ser nada — amanhã tem mais."

                                   Ruy Espinheira Filho

Do livro: Livro de Sonetos, Edições Cidade da Bahia, 2000, Salvador/BA

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